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Os artistas que fazem das ruas o palco de sua arte

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Eles enxergam nas ruas a oportunidade de mostrar sua arte, se sustentar e começar uma carreira com o que amam

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Arte de Rua se refere a manifestações de arte no espaço público, os artistas de rua já existiam desde a Grécia Antiga, na Commedia dell'arte, na Europa, no fim da Idade Média e continuam até hoje.

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A arte de rua não precisa de espaço e nem de tempo para estar lá, só precisa da rua. E ela acontece, em qualquer lugar: ruas, debaixo de pontes, lixões, paredes estragadas, lugares abandonados... Todo lugar pode receber arte.

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No início, como um movimento “underground”, foi se formando como um modo de  fazer arte, abrangendo várias modalidades.

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Os temas dos artistas de rua são os mais diversos, mas costumam focar em críticas políticas, sociais e econômicas.

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Exemplos de Arte de Rua são: Grafite, estêncil, poemas, colagem, cartazes, estátuas vivas, apresentações e instalações.

 

 

Dança

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A Dança de Rua foi criada pelos negros, na década de 1960,  nos subúrbios de Nova Iorque, nos EUA, onde existia um grave problema com drogas, violência, falta de infra-estrutura, emprego e educação. Então, os jovens viram na rua um espaço para se expressarem.

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Brigas de gangues eram muito comuns, assim, essa agressividade foi se redirecionando para arte, com batalhas de dança. Essas atividades eram menos violentas e  proporcionavam a chance de expor a realidade que viviam para todos.

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Existia uma rixa entre o povo de Nova York e o de Los Angeles sobre quem criou o que e quem faz melhor. Nova York é ritual, combate e força, já Los Angeles, é funk, estética, e corpo.

 

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Grafite

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Aqui no Brasil, a arte de rua surgiu em 1970, nas paredes da cidade de São Paulo. Na época da Ditadura Militar. Era uma arte considerada muito marginalizada, mas conseguiu destaque no mercado de arte, com diversos artistas brasileiros consagrados pelo mundo do grafite.

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Na década de 80, desenhos de frangos assados,  botas de salto fino e telefones, começaram a aparecer nos muros de São Paulo. Esses foram os primeiros grafites em espaço público da capital, feitos pelo artista etíope Alex Vallauri.

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Em suas obras, dava para ver o lado político do grafite paulistano, como um exemplo, o desenho "Boca com Alfinete" (1973), uma referência à censura. Naquela época, na ditadura militar, o grafite era crime no país.

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Vallauri faleceu em 27 de março de 1987 e a data se tornou o Dia do Grafite no Brasil.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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   Beco do Batman.

   Fonte: Gabriel Prates.

 

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Um lugar muito conhecido por quem aprecia o grafite na cidade de São Paulo, é o Beco do Batman, localizado na Vila Madalena.

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Lá podemos encontrar pessoas trabalhando como o Grafiteiro Cyrackz, de 42 anos, que vive de grafite e artes plásticas em geral. Ele grafita capinhas de celular faz 10 anos, sua ideia veio da vontade de criar algo que ainda não existisse. Todo mundo já pinta tela e parede, ele acredita ser o único nessa área por enquanto. Ele veio da Bahia e diz que viu muita diferença cultural pelo trabalho que faz: “A Bahia tem sua cultura, hoje em dia tem grafite, mas quando  cheguei em São Paulo surgiram vários trabalhos”.

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Daniel Gomes, de 75 anos, trabalha contando a história do Beco a mais de 15 anos. De acordo com ele, em 1970, construíram uma fábrica de móveis e o dono colocou um emblema no batman na janela, depois, ele comprou um carro e o transformou em um batmóvel, que posteriormente foi vendido ao cantor Mick Jagger. Assim, nasceu o nome “Beco do Batman”.

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Nas palavras de Daniel: “No Beco vem gente de todos os níveis sociais, é um museu ao ar livre, a prefeitura da a tinta e os grafiteiros vem pintar, não precisa de permissão, pode vir qualquer pessoa”.

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   Símbolo do Batman na fábrica de móveis.

   Fonte: Gabriel Prates.


 

Do erudito ao popular

 

A ideia da arte urbana é sair dos lugares “consagrados”, ou seja, criados para apresentações artísticas (teatro, museus, cinemas), para dar visibilidade a arte espalhada pelas ruas no nosso dia-a-dia. Uma arte mais perto das pessoas, que modifica o ambiente onde está sendo exposta. Artistas não tão formais, que, ao não se encaixarem no sistema da arte dita “erudita’, encontraram o seu espaço, seu palco, nas ruas.

 

 

Em todos os lugares

 

Músicos que levam arte e distração para passageiros do metrô de todo o mundo é um grande exemplo de que podemos ter arte em todo lugar. Outro exemplo, é a avenida Paulista, com 2,7 quilômetros de extensão, significa muito para quem mora na região de São Paulo. É o centro financeiro, um dos pontos turísticos mais visitados na capital e palco de artistas de rua, que se espalham pelas calçadas e sob as marquises dos prédios. Desde que a avenida passou a ser fechada aos domingos, virou um programa comum para os moradores da região metropolitana.

 

Nossa equipe conheceu o grupo de artistas “Las Martas”, formado há quase 6 anos, pela união várias artistas de rua que viajam pela américa do sul e se encontraram em São Paulo, com os mesmo desafio e as mesmas dificuldades, mulheres sozinhas sendo artistas de rua, que decidiram se juntar para fazer um único espetáculo, que, como nos contaram, deu muito certo, elas viram que “a união faz a força”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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   Cia Las Martas se apresentando na Avenida Paulista.

   Fonte: Gabriel Prates.

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Nós conversamos com Josefina Siro de 32 anos e Rocio Romero de 36, após uma apresentação na Avenida Paulista. Elas são artistas de rua, mas atualmente, também trabalham em outros espetáculos.

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Ao perguntarmos se a profissão delas é vista pelas pessoas como uma forma de arte, elas afirmaram que sim, mas algumas vezes, principalmente no semáforo, confundem com  pedintes, também nos disseram que isso depende muito da cidade, do país. Sobre a recepção de São Paulo e arte de rua, falaram que a cidade ainda não entende muito bem como funciona, mas que está melhorando: “Eu sentia que as pessoas daqui não entendiam muito como que funcionava a arte de rua, tanto que eu comecei a me sustentar vendendo discos. O chapéu (forma que os artistas recolhem o dinheiro), era muito difícil de fazer, eu sinto que agora as pessoas começaram a entender mais como funciona. A cultura do chapéu, não só em São Paulo, mas no Brasil, é bem baixa, as pessoas não estão acostumadas a colaborar, elas te consideram um artista, mas não entendem essa forma de vida do chapéu, não entendem como realmente um trabalho”.

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Ainda sobre São Paulo acrescentaram: “Pra vida de uma cidade é muito saudável ter artistas de rua, eles fazem as pessoas acordarem, elas estão alienadas e a arte de rua consegue aparecer nos espaços e fazer as pessoas lembrarem que estão vivas, que tem outras pessoas ali, que se emocionam, se conectem com alguma coisa, com uma lembrança. Isso ainda precisa ser pensado aqui em são paulo e a gente torce para que essa cultura do chapéu consiga se construir de uma maneira mais sólida”.

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O objetivo da apresentação delas é, além de sua profissão e sustento, conseguir se conectar com algo verdadeiro dentro delas mesmas, tocar e transformar de alguma maneira as pessoas, conseguir que depois da apresentação o dia não seja o mesmo. Elas comentaram que a rua é muito democrática, todo mundo pode assistir e compartilhar, e a arte tem a ver com isso: tocar o outro e ser tocado também.

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Também falaram que, para os artistas, ir pra rua é um aprendizado gigante, você constrói, se surpreende, sai da zona de conforto, se frustra também, se cansa, fracassa, um dia você é bom e no outro dia você é a pior coisa. Ainda dentro das dificuldades, nos contaram já sofreram muito preconceito “Não é fácil, não é simples, precisa juntar coragem, se fortalecer, muitos vão falar coisas ruins, por todo lado, até a própria família, mas só acreditando em si, você consegue estar na rua. É uma escolha que precisa de uma grande dedicação, mas apesar de tudo, um dia você volta para um lugar onde já se apresentou antes, vê uma criança que cresceu e lembra de você, ficou marcada, aí realmente é incrível, quando você entende o poder do que está fazendo”.

 

Por Sabrina Toledo Minholi - 2019

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